sábado, 31 de julho de 2010

Ninguém

Toquei minha pele na pele do meu
inimigo. Nunca mais escrevi nome
algum. Ninguém: é o que sou.

Hiberno. Até que tudo retome um
sentido. O desassossego é para ser
sentido a sós.

Beijei a face do meu inimigo. Uma e
Outra. Ele ofereceu-me o corpo.
Negado três vezes: judiação.

Com lâmina afiada, arranquei a pele
do meu braço e rosto. Pergaminho
para escrever nenhum nome.

Hiberno. Enquanto meu corpo se
reveste.

Pele macia a do inimigo. Lobo vestido
de algodão. Boca e língua de castigo.
O verbo: emudecido.

Hiberno.


Poema finalista do Prêmio OFF FLIP 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

olhos de saramargo

pés caminham como se afundassem
na ponta dos dedos flores de medo

nunca mais, na história deste lugar,
se sonhará como antes

os inimigos se afagam
rabos de raposas se alisam

que é isso compañero?
(plátanos a menos
carros hyundai a mais)
compañero, isso é diñero

compañero, nada vejo:
olhos de saramargo
ensaiam sobre a cegueira