sábado, 20 de fevereiro de 2010

Catatau

respiro
o canto insiste
é cisne deslumbrante
tudo o mais em mim sucumbe
sou cântaro, pluma e pranto
camaleão-calígrafo sem rumo e alguma rima

a minha poesia é menor
dirá a crítica amanhã.
E de que me valerá,
se estarei morta?

não, não estarei morta
serei igual a borboleta
que se fingiu de porta

não quero ser famosa
nem dar entrevistas
muito menos que especulem minha vida

apenas meus poemas
podem ser especulados,
mastigados, lidos de mil modos -
minha melhor pele

fiz o caminho inverso dos outros poetas
vivi primeiro
a erudição veio depois
a arte me salvou a vida

um poema pode levar dias para ser concebido
também o contrário pode acontecer
diversos versos aflorarem de uma vez
é como se diversos espíritos de poetas mortos te visitassem
e colocassem nos teus dedos palavras comoventes

o poeta precisa da situação criadora
a qual não combina com fama
pode combinar com cama, clima, clamor
todo poeta é amor
em palavras
mesmo quando a palavra é dura
há os que precisam de palavras duras

de hoje em diante o meu amor será eterno e duro
desses que se levanta da cama com vontade de dormir
mas com rigidez se põe de pé e se encaminha
(ante a vontade de desistir), a estrela que me guia
a dizer: lá na frente está tua fantasia
o pote inexistente no arco-íris
faço de conta e tantas contas fiz
que nem me levo mais em conta

farei poemas doces
a arte é a única mentira verdadeira e pura
a arte e o mar e o rio e o céu estão em mim
feito perfume
ave maria
cheia de garças
sublime oceano
bendita voz
clemente, piedosa
doce
maria